A rejeição, o medo e a malícia

Qual é nossa tendência natural quando não somos bem recebidos pelo que falamos ou fazemos? Ao meu ver, deixamos de fazer uma coisa ou outra, deixando de ser cada vez mais espontâneos.

Além disso, fato semelhante acontece com nossos sentimentos. Quando sentimos, pois, que os outros não respondem bem à nossa abertura sentimental, à nossa sinceridade, à nossa clareza, é que começamos a cogitar a possibilidade de aprender a "jogar" no cenário diário das relações interpessoais.

"Jogar no cenário das relações interpessoais, o que é isso?" É quando você, racionalmente, seja por que motivo for, opta por agir de um jeito, e não de outro, porque imagina - em vista de experiências passadas - que auferirá maior vantagem das mudanças do que da manutenção do modus operandi anterior.

Vantagens, vantagens e vantagens. Agindo em prol de si mesmo, manifestamos receio de perder o que temos, e receio de não ter o que ainda não temos mas que queremos ter. Agimos pensando em nós mesmos - tão humano da nossa parte.

Há, entretanto, maneiras alternativas de se agir - aviso, com antecedência, que não se trata de nada fácil, afinal, "rapadur'é doce mar'né mole não". Se você não joga, pode perder a chance de viver uma ou outra coisa a qual almeja bastante; em contrapartida, dá aos que te cercam a possibilidade da clareza de informações, para decidir completamente o que fazer com sua própria vida.

O que acontece, contudo, é que clareza de informações é um aspecto difuso em várias seáras da vida. O mercado, por exemplo, carece disso; as relações inter e intragovernamentais, ídem. Dessa forma, sendo tantos aspectos de nossas relações manipulados por tudo e por todos, por que haveria nossas relações com os outros de se eximir disso?

Uma vez, disseram-me que um dos fatos mais difíceis de se aceitar na vida adulta é que o mundo é regido por uma certa malícia. Não estou dizendo que o mundo é malicioso - calma -, mas que certa parte deste foge às puras relações que travamos com o mesmo quando somos crianças. Entender isso, e perceber que estamos num mundo em que "se correr o bicho pega, e se ficar o bicho come", é fase obrigatória na vida dos que querem entender a mecânica do mundo. Antes, contudo, de cair em vasta depressão por tomar conhecimento dessa realidade - como acontece em tantos de nós, que não sugeitam-se a isso -, uma nota de roda-pé: aceitar que o mundo tem seu jeito de girar não significa perder a capacidade de ver beleza em tudo - a vida continua sendo igualmente bela.

Há de ser dito, por outro lado, adicionalmente, que nem só de malícia se faz o mundo, e que temos a ganhar infinitamente se disseminarmos sinceridade e amor no mundo. A pergunta é: você está disposto a abrir mão disso, conseguindo conviver com o irrefutável fato de que os outros jogam, mas você não?

Ganhamos muito em não jogar, e ainda pode se dizer - além de toda a discussão já travada aqui - que existem meios-termos. Pode-se jogar aqui e ali, mas não acolá. Pode-se jogar em uma ou outra situação, mas não naquela ali.

Comentários

Roberto Mac disse…
às vezes, paro pra pensar na maldição que é ser um ser humano: um ser que a dicotomia entre as coisas inversas faz sua moradia permanente.

O mundo é ruim, os seres humanos são miseráveis, nada presta..
Mas acredite, ainda há lugar para encontrar felicidade no frágil contraste entre as coisas boas e a desgraça na qual vivemos.
Unknown disse…
O difícil é saber em qual deve-se e em qual não deve-se jogar... a linha é muuuuito tênue! hehehehe :P
Amo vc!
Saudades!!
Addison disse…
Acho que este foi o teu post mais sábio. O primeiro parágrafo resume um caso que é motivo de monografias, teses e estudos infindáveis em diversas áreas humanas.

Conseguir ser vc mesmo num mundo que luta incessantemente, dia e noite, para te podar é árduo, difícil e gratificante.

Sonho com isso.

Postagens mais visitadas deste blog

Willie, o pé de manjericão

um papoco, um sorriso, um sinal de pare

um livro, uma música, meus pais, um para-quedas