e de onde vêm o que você sente? e vale a pena?
À margem do mundo que conhecemos, tem um amontoado de terra que quase todo mundo chama, indiscriminadamente, de África; e, dentre tantas nações às quais se divide o continente, com certeza, existe uma enorme variedade cultural, que se expressa desde a pluralidade de dialetos existentes - que se falam apesar da existência de outros idiomas oficiais, postos ali por colonizadores antigos, ou não tão antigos assim -, até anedotas das quais se escuta falar sobre a tradição e sobre o jeito de lidar de cada povo com suas questões. Num belo dia, estava eu lendo um livro interessantíssimo, quando me deparei com um relato mais interessante ainda, e é sobre isso - e sobre uma outra lapada de coisas - que venho falar aqui.
Seu filho foi assassinado. Isso, seu filho foi assassinado, e o assassino foi identificado. A justiça local preestabelece um tratamento em específico para tal determinada laia de elemento: colocam o caboclo num barquinho, amarram os pés do elemento a uma pedra bem pesada, levam o barco até o meio de uma-ruma-d'água, e jogam o indivíduo na água. A morte é uma certeza nesses casos para o assassino - a punição é certa. Só há um caso, entretanto, no qual isso não acontece - ele se chama "perdão". Se a familha da vítima aprouver, não afogam o caboclo-lino; e foi justamente isso - assim eu vejo - que um certo filho de família kenyana fez há poucos dias: permitiu a construção de uma mesquita mulçumana nas proximidades de onde ocorrera um dos piores - se não o pior - atentados terroristas que já assolaram sua nação, "The 9/11". Não obstante, o que será que se passa pela mente das diferentes partes das familhas africanas nas quais o assassino é perdoado? Indignação? Pois foi o que aconteceu - calma, não tô dizendo que mataram a filha do Obama, e nem que foram eles que botaram boneco. Ninguém apoia, nessas horas, os que perdoam. Perdoar é contra-intuitivo. Dizer que não há mágoas não é fácil, e sequer parece humano. Mas por que é que a gente deve buscar o padrão, quando há argumentação de que esse mesmo não representa nossos valores? Ser hipócrita é massa, é fácil, é tudo de bom, e todo mundo é em certa medida - vô nem mencionar o quanto eu o sou... Mas num rola nem uma vontadezinha de mudar, não? Comigo, rola. Assim sendo, olho pr'uma situação, penso que, usualmente, ele sempre foi de um determinado jeito; vejo também, contudo, que aquilo não me é a melhor forma de proceder - à luz dos meus preceitos -, e, por isso, busco alguma mudança. Também não tô falando que consigo mudar sempre; mas, vez-por-outra, até que dá certo. Também não tô dizendo que é fácil - dói muito, é cansativo e é muito mais cômodo ficar dormindo - ainda mais quando se tem sono, situações às quais dou tanto valor que vocês nem sabem, já que não tenho essa praga na hora em que eu deveria ter. E falando em praga, "ow, Praga fria"! Dia desses, voltando pra casa, passei num Sebo - não, não é o que tem atrás de orelha de menino-do-buchão-amarelo que não passa sabugo de milho atrás das orelha (por caridade, observem a proposital falta de concordância nominal - leva uma carga de coloquialismo tão grande que quase se é possível imaginar o menino de quem falo). Lá estando, peguei um livro do qual alguns que passam os olhos neste texto já me indicaram - e o cenário, só pra acabar de ser bom, é a República Tcheca, lar de um de um idioma que se parece com russo, apesar de se utilizar do alfabeto romano, e não cirílico. Sentei num banquinho que, de tão baixo, quase era um tapete de madeira, e abufelei o livro. Li até dar um desgosto - ok, não chegou a dar, não, mas li até ficar dolorido, porque a posição era ruim demais. Chegando em casa, peguei um pedaço de acolchoamento que viera protegendo a tela de uma televisão que ganhara de presente há alguns meses atrás, cortei bem "no-ponto", e pensei comigo: na próxima, eu carrego esse acolchoado e levo pra sentar naquele banquinho infeliz, e ler aquele livro - de graça. As melhores coisas da vida são de graça, mas tem algumas delas que são tão difíceis de se conseguir! Dia desses, passei ótimos pedaços numa livraria de partitura, e encontrei coisas as quais já havia tentando tão persistentemente e sem sucesso conseguir por outros meios. Cavatina, Gnossiene... Uma maravilha - música é uma dádiva de Deus. É tão coisa-de-deus, que realmente sinto que seja um dos meios pelos quais somos capazes de sentir coisas novas. Quando aprendo uma música nova, as notas fazem carinho. São lindas. E os acordes... nem se fala. Acho que vou compor uma música e mandar pr'os States, pra ver se aparece perdão no coração daquele povo, em vista do ressentimento que carregam. Ressentimento é sentimentalismo; que, nas horas erradas, pode cavar a cova de qualquer um. Será que toda essa persistência de incursões norte-americanas não seria mesmo um velho e conhecido ressentimento? Man... Let this go. Let it go.
Seu filho foi assassinado. Isso, seu filho foi assassinado, e o assassino foi identificado. A justiça local preestabelece um tratamento em específico para tal determinada laia de elemento: colocam o caboclo num barquinho, amarram os pés do elemento a uma pedra bem pesada, levam o barco até o meio de uma-ruma-d'água, e jogam o indivíduo na água. A morte é uma certeza nesses casos para o assassino - a punição é certa. Só há um caso, entretanto, no qual isso não acontece - ele se chama "perdão". Se a familha da vítima aprouver, não afogam o caboclo-lino; e foi justamente isso - assim eu vejo - que um certo filho de família kenyana fez há poucos dias: permitiu a construção de uma mesquita mulçumana nas proximidades de onde ocorrera um dos piores - se não o pior - atentados terroristas que já assolaram sua nação, "The 9/11". Não obstante, o que será que se passa pela mente das diferentes partes das familhas africanas nas quais o assassino é perdoado? Indignação? Pois foi o que aconteceu - calma, não tô dizendo que mataram a filha do Obama, e nem que foram eles que botaram boneco. Ninguém apoia, nessas horas, os que perdoam. Perdoar é contra-intuitivo. Dizer que não há mágoas não é fácil, e sequer parece humano. Mas por que é que a gente deve buscar o padrão, quando há argumentação de que esse mesmo não representa nossos valores? Ser hipócrita é massa, é fácil, é tudo de bom, e todo mundo é em certa medida - vô nem mencionar o quanto eu o sou... Mas num rola nem uma vontadezinha de mudar, não? Comigo, rola. Assim sendo, olho pr'uma situação, penso que, usualmente, ele sempre foi de um determinado jeito; vejo também, contudo, que aquilo não me é a melhor forma de proceder - à luz dos meus preceitos -, e, por isso, busco alguma mudança. Também não tô falando que consigo mudar sempre; mas, vez-por-outra, até que dá certo. Também não tô dizendo que é fácil - dói muito, é cansativo e é muito mais cômodo ficar dormindo - ainda mais quando se tem sono, situações às quais dou tanto valor que vocês nem sabem, já que não tenho essa praga na hora em que eu deveria ter. E falando em praga, "ow, Praga fria"! Dia desses, voltando pra casa, passei num Sebo - não, não é o que tem atrás de orelha de menino-do-buchão-amarelo que não passa sabugo de milho atrás das orelha (por caridade, observem a proposital falta de concordância nominal - leva uma carga de coloquialismo tão grande que quase se é possível imaginar o menino de quem falo). Lá estando, peguei um livro do qual alguns que passam os olhos neste texto já me indicaram - e o cenário, só pra acabar de ser bom, é a República Tcheca, lar de um de um idioma que se parece com russo, apesar de se utilizar do alfabeto romano, e não cirílico. Sentei num banquinho que, de tão baixo, quase era um tapete de madeira, e abufelei o livro. Li até dar um desgosto - ok, não chegou a dar, não, mas li até ficar dolorido, porque a posição era ruim demais. Chegando em casa, peguei um pedaço de acolchoamento que viera protegendo a tela de uma televisão que ganhara de presente há alguns meses atrás, cortei bem "no-ponto", e pensei comigo: na próxima, eu carrego esse acolchoado e levo pra sentar naquele banquinho infeliz, e ler aquele livro - de graça. As melhores coisas da vida são de graça, mas tem algumas delas que são tão difíceis de se conseguir! Dia desses, passei ótimos pedaços numa livraria de partitura, e encontrei coisas as quais já havia tentando tão persistentemente e sem sucesso conseguir por outros meios. Cavatina, Gnossiene... Uma maravilha - música é uma dádiva de Deus. É tão coisa-de-deus, que realmente sinto que seja um dos meios pelos quais somos capazes de sentir coisas novas. Quando aprendo uma música nova, as notas fazem carinho. São lindas. E os acordes... nem se fala. Acho que vou compor uma música e mandar pr'os States, pra ver se aparece perdão no coração daquele povo, em vista do ressentimento que carregam. Ressentimento é sentimentalismo; que, nas horas erradas, pode cavar a cova de qualquer um. Será que toda essa persistência de incursões norte-americanas não seria mesmo um velho e conhecido ressentimento? Man... Let this go. Let it go.
Comentários
Tava pensando agorinha mesmo sobre esse lance das melhores coisas são de graça... deitada ali preguiçando às 11 da manhã. Coisa boa é acordar sem despertador, na hora que o sono "feels like going away". Quase tão bom quanto um abraço apertado de alguém que a gente ama.
Quase.
Saudades!
Amo-te.
Cara, tou começando a achar que vc fecha os olhos e começa a "escrever" esses textos por psicografia! Não, não.. são muito a sua cara. :)
Bem, o perdão... A vingança é um dos sentimentos mais intuitivos e mundiais do ser humano, né? Mas, estudando sociologia a gente aprende que nada é natural, tudo é cultural, é construído de acordo com os valores que nos são passados e as experiencias pelas quais vivemos e aprendemos. Só podemos constatar que a vingança vem sendo cultivada mundialmente, então. Que sempre foi. Mais que mundinho de ponta-cabeça, não? Uma grande bola de neve humana crescendo, eu gostaria de viver muito, talvez pra sempre, só pra ver essa bola diminuindo um dia ou, quem sabe, finalmente explodindo ao colidir com alguma rocha ou superfície mais resistente. Tenho essa curiosidade. Mas quando lembro que sou mortal, gosto também de respirar e pensar como vc "just let it go"...
Sim, as melhores coisas são muitas vezes as mais simples, ~veja bem, simples, mas não gratuitas! Não consigo pensar assim, hehe, penso logo num jardin chinês ao amanhecer, talvez num templo budista, poxa preciso de grana pra ir até lá, apesar de contemplar aquele momento no jardin seja um ato gratuito e de grande simplicidade. Ao menos tenho as praias daqui, belas e minhas. Assim como as lindas serras que temos no Ceará.
Legal vc estar lendo Risíveis amores, já leu o jogo da carona? É bacana. Te indico A Brincadeira. Diria que é o romance do Kundera com mais valor histórico e profundidade psicológica de todos.
Bem, talvez neste momento eu esteja sofrendo do mesmo 'brainstorm' que vc sente ao desaguar teus pensamentos aqui, perdi a noção do quanto escrevi, heheh.
Pra terminar, não posso deixar de comentar o fofo comentário da Stéphane! "Yeah, its bullshit, everybody cares about that!"
E sua expressão americana pra quem acorda expontaneamente me soou tão suave que meu ombros relaxaram, quase pude ter a sensação de estar acordando assim.
Agora vou-me, mas fica aqui um grande abraço aos dois irmãos! :)
texto emocionante e cativante.
Delícia fluente, man. Continuo lendo por aqui. :D
Sobre o ressentimento dos EUAenses, penso que existem muito mais coisas entre o céu e a terra do sonho nossa vã filosofia, parafraseando Shakespeare, apesar de ter gostado de como vc consegui pensar sentimetalmente sobre um assunto de "palavras frias", quando eu faço isso eu tenho a certeza de que entendi aquilo, pois aquilo entrou em mim de forma que eu a "filtrei" e ela saiu por mim transformada.
Abração!