café
Hoje foi mais um dia, mas foi diferente. Hoje tomei café. O cúmulo da minha obsessão por metodologia em tudo - ou mais ou menos tudo - o que faço me controla o sono por uma planilha de excel. Sete horas nessa noite, cinco na noite passada - mas dormi melhor de antes de ontem pra ontem. Um sono muito mais que "infeliz" - que palavra amena que uso aqui, substituindo uma que remetente à maternidade advinda de profissionais do sexo - hoje foi o peso que eu carreguei até as quatro, ou quatro e meia, da tarde. Café é coisa linda/vinda de Deus. Fazia um tempo que não sentia nada assim. Que falta de controle. Odeio quando me falta controle. Tudo são variáveis, e, se eu pudesse, colocava minha vida numa planilha. Planilha mede felicidade - caso contrário, eu não ficaria feliz quando faço uso desse recurso maravilhoso com o qual a tecnologia nos brinda. Quando era mais novo, via meu pai sempre com os olhos nessa maravilhazinha, e pensava, o que pode ser tão bom nisso? Hoje eu sei. É a mais clara expressão material de organização da vida. Sem disciplina, é difícil chegar onde se quer - se que é se quer chegar a algum lugar. Mas eu tenho sono. Disciplina dá sono - nas horas erradas. Quem me dera que eu conseguisse criar um remédio pra insônia, pegando o sono que eu sinto em horas em que não posso sentir. Se eu fosse uma pessoa normal, dormiria à noite. Mas minha mãe teve insônia enquanto gestante daquele que vos escreve - mostrando, assim, quão instrínseca é essa safadinha à minha pessoa. Hoje comentei isso com mais alguém: Se eu dormisse e acordasse na hora em que gostaria, tudo seria perfeito na minha vida - seria um "ain't no mountain hight enough" constante. Aí você teria alguma outra coisa errada na sua vida, porque vida de ninguém é perfeita sempre, então alguma outra coisa apareceria para contrabalencear o que tem de bom - ela me respondeu. As pessoas têm essa ideia de que a vida não pode ser perfeita; e até já ouvi quem dissesse que, quando se está "no ponto", é aí que deixamos essa Terra - ah, fulano morreu porque já era mesmo a hora pra ele. Mais uma racionalização para a morte. Morte é não poder dormir, ter sono durante o dia e ter que tomar café pra ver se alguma coisa muda - e não tenho o hábito de tomar café. Nada adianta - eu suponho - pra uma pessoa que, dia desses, tomou pó de guaraná - em situação similar à de hoje - e, logo em seguida, dormiu. Por que será que se escuta dizer que a taxa de suicídio é tão alta em países bem desenvolvidos? Já ouvi dizerem que, em lugares como esses, não se tem o que perseguir na vida; logo a motivação para viver é perdida. Num sei com base em que tiraram essas inferências. Só sei que eu não quero saber. Já pensei comigo dia desses: se pudesse escolher, criaria meus filhos na Noruega. Primeiro, porque lá é cheio de mulher bonita - pelo menos é o que eu suponho -, e segundo, que lá tudo funciona. No Brasil, não. No Brasil, a gente tem sono. Se eu pudesse ter escolhido, teria nascido finlandês - e não é porque a língua tá entre as mais difíceis do mundo, e nem porque lá é friozinho, eufemizando bastante -, porque lá não devem ter sono quando não se deve. Fico pensando o que as gerações futuras vão pensar lendo meu successful blog, no qual digo que não queria ter nascido brasileiro. Então, como recado a essas, digo que não tem nada a ver com nada, e que a mente de vocês tem que ser aberta. Não me venham com conversinha de "você não ama seu país" - não-tem-nada-a-ver. Eu só queria dormir na hora certa, e eu tenho essa impressão de que na Finlândia as pessoas devem conseguir isso - como se o fato de eu não conseguir dormir tivesse alguma coisa a ver com eu ser brasileiro: a que ponto chego... Vocês já ouviram algum finlandês falar alguma coisa? Lendo um texto, uma vez, sobre a língua finlandesa, descobri o segredo. Em finlandês, se você pode falar uma determinada palavra utilizando, por exemplo uma única vogal, porque não usar, no lugar, três ou quatro vogais?! Não seria muito mais legal?! Pois é isso que se faz por lá. Adoro língua bizarra nesse mundo. Mais eu gosto mesmo é de ter tudo sob controle, pra que, se eu quiser, eu possa aprender finlandês.
Comentários
(...)
Já eu, sempre peço ajuda a xícaras e mais xícaras de café por dia. Afirmo-me dependente desta droga pra compensar meus débitos de sono causados por impulsos de lazer.
Quanto as suas "divagações finlandesas/norueguesas".. só posso contemplar e regozijar-me com tamanha arte que presenciei!
Abração!!
Muito orgulho de vcs! Bom, eu adoro dormir (embora sempre prefira aproveitar os momentos acordado - bem acordado - como vcs bem sabem.
Adoro dormir e nunca tive tanto problema com insônia. Só em vésperas. Odeio vésperas importantes, me enlouquecem. Mas em último caso sempre tem os comprimidinhos da minha mãe pra me acalmar.
Grande abraço!
Depois de 21 anos aprendendo a tomar café, pode ser que ainda tenha esperança pra mim aos 28... lol
Amo-te!